Será uma boa altura para Depósitos a Prazo?

Os depósitos a prazo são dos instrumentos financeiros mais populares entre a sociedade. Durante muitos anos foram um produto financeiro onde uma grande parte das poupanças dos Portugueses eram alocadas, com taxas de retorno interessantes e uma grande facilidade na subscrição. Nos últimos anos, com as taxas de retorno a navegarem por valores absolutos baixos, a sua popularidade tem diminuído causando até um esquecimento aos consumidores da possibilidade de alocar as poupanças a estes produtos.

Os depósitos a prazos são um local seguro onde podemos colocar o nosso dinheiro e obter um retorno com o mesmo. Os prazos dos mesmos variam assim como as suas taxas de retorno mas uma coisa que os caracteriza é a dificuldade ou impossibilidade de retirar o dinheiro antes do prazo definido. Uma coisa que podemos facilmente verificar nos depósitos a prazos é que quanto maior for o prazo do mesmo, maior é a taxa de juro associada ao retorno do depositante, mas porque é que isso acontece?

As instituições financeiras, nomeadamente os bancos, ganham dinheiro angariando depósitos e emprestando dinheiro. De uma forma simplificada os bancos vão buscar dinheiro aos bancos centrais e aos consumidores/empresas, pagando-lhes uma taxa de juro associada ao dinheiro e depois emprestam esse mesmo dinheiro com uma taxa de juro superior. O que os bancos ganham é a diferença entre a taxa de juro do dinheiro que conseguem angariar e a taxa de juro do dinheiro que emprestam. Por exemplo, durante o mês de Setembro os bancos ofereciam em média uma taxa de 0,12% pelo dinheiro que os consumidores colocam em depósitos a prazo mas emprestam dinheiro para credito à habitação a uma taxa média de 1,62%. Apesar de estas não serem as únicas formas e fontes de obtenção e empréstimo financeiro por parte dos bancos, a diferença entre as duas taxas é o retorno obtido por essas instituições financeiras. As taxas de juro associadas aos depósitos a prazos com prazos mais longos são maiores porque, não só o banco tem mais flexibilidade com a alocação do dinheiro devido ao maior prazo deste como o consumidor que empresta o dinheiro necessita de um maior retorno porque o dinheiro depositado fica inacessível durante mais tempo.

Desde 2012 que a taxa de juro dos depósitos a prazo está a descer.

As taxas de retorno oferecidas pelos depósitos a prazo em Portugal têm estado abaixo de 1% durante os últimos 5 anos. Estes valores baixos criam uma imagem nos consumidores bastante diferente daquela que existia no passado, onde os depósitos a prazos eram vistos como um importante instrumento de poupança da população. Quando as taxas de juro do Banco Central Europeu variam, as taxas dos depósitos a prazo tendem a variar no mesmo sentido. Como as taxas do Banco Central Europeu encontram-se em 0% nos últimos 4 anos, isso explica o porquê das taxas de juro dos depósitos a prazo estarem também bastante próximas de 0%, mas se os bancos podem ir buscar dinheiro a 0% porque vão dar uma taxa superior a 0% nos depósitos a prazo? A verdade é que nem todos os bancos conseguem-se financiar no Banco Central Europeu e, do ponto de vista comercial, é importante um banco oferecer instrumentos de poupança para atrair os clientes.

Na procura de investimentos de poupança, o consumidor deve de ter em atenção o risco e o retorno associado. No caso dos depósitos a prazo o risco é bastante baixo, porque estes produtos têm um fundo de garantia do estado, até aos 100.000€, mas o seu retorno também é bastante baixo. Como retorno procura-se sempre algo que seja igual ou superior à taxa de inflação de forma a não perder poder de compra. No ano de 2019 a taxa de inflação em Portugal ficou-se pelos 0.3%, um valor bastante baixo mas ainda assim superior às taxas médias dos depósitos a prazo para maturidades superiores a 2 anos, que estavam abaixo dos 0,2%. Assim, um consumidor que tenha colocado as poupanças em depósitos a prazos durante o ano de 2019, perdeu poder de compra, o que é algo não desejável. Poder-se-ia pensar que a taxa de inflação é sempre superior às taxas médias dos depósitos a prazo mas não é o caso. Por exemplo no ano de 2012 a taxa média dos depósitos a prazo com maturidades superiores a 2 anos foi de 3,27% e a taxa de inflação de 2,8%, o que corresponde a um ganho de poder de compra para quem tinha as suas poupanças aplicadas neste tipo de depósitos.

As taxas de juro do Banco Central Europeu são um regulador económico que permite estimular/contrair a económica e controlar as taxas de inflação. Atualmente com a crise do Covid-19 e com as baixas taxas de inflação que se têm registado, não se perspetiva subidas das taxas diretoras do Banco Central Europeu no curto prazo. Como tal, as taxas de juro dos depósitos a prazo irão continuar baixas durante mais alguns tempos. Se as taxas de inflação continuarem em torno dos valores que tiveram nos últimos 7 anos, sempre abaixo de 1,5% mas acima de 0%, aplicar as poupanças em depósitos a prazo poderá não ser a melhor escolha mas é sempre uma escolha melhor do que não fazer nada com a suas poupanças.

Então e se as taxas de juro do Banco Central Europeu começarem a aumentar?

Então nesse caso, e caso a inflação continue com valores baixos, poderá voltar a alocar uma parte ou a totalidade das suas poupanças aos depósitos a prazos, sempre com prazos de maturidade curtos. Os depósitos a prazos com prazos curtos (3 meses, 6 meses e 1 ano) são bons para uma tendência de subida de taxas de juro e os depósitos a prazo de maior duração (2 anos, 3 anos ou 5 anos), para épocas de descida de taxas de juro.

Apesar dos depósitos a prazo atualmente não parecerem a alternativa com melhor atractividade, em conjunto com um portfolio diversificado podem contribuir para uma eficiente alocação de risco. Como tal, será sempre algo a ter em consideração na altura de alocar as suas poupanças.

O autor não possui interesses diretos ou indiretos nos exemplos mostrados, sendo estes única e exclusivamente de caracter didático.

Fontes:      Euro Area Statistics

                  Pordata

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